O vestido é o que veste o corpo, mas é também aquilo que é vestido por ele. Este é um trabalho inspirado indiretamente em Pina Bausch. Há nesse vestido também referências literárias e cinematográficas que vão de Lewis Carrol a Shekhar Kapur. Esse “vestido” é objeto da busca de uma “mulher selvagem” que tenta encontrá-lo e ocupá-lo, dando início a um profundo processo de descoberta, consciência, ação e libertação. O vestido é a metáfora dos sonhos almejados. É o desejo tantalizado, o inalcançável, o inatingível. É a força imanente que leva alguém a vencer os próprios medos e se libertar.

Este trabalho foi apresentado em 2013, como work in progress no 7o Seminário Internacional de Dança de Joinville, no 1,2 na Dança em Belo Horizonte e no Satyrianas em São Paulo. Teve sua estreia em maio de 2014 em Belo Horizonte, partindo em seguida para Recife, na 11a Mostra Brasileira de Dança, no Encontro Nacional de Dança onde foi apresentado em Mossoró e Natal, Ocupação Caixa Cultural Recife e fez a circulação com o Prêmio de Dança Funarte Klauss Vianna pelo Norte do País, tendo sido apresentado, inclusive, no Teatro Amazonas em Manaus.

Muitas pessoas me perguntam de onde veio a ideia de “O Vestido”, segundo solo de dança e teatro que criei para a “Trilogia do Feminino”. Não. Não me inspirei em Drummond.

Em junho de 2010 foi a estreia de Mulher Selvagem, o primeiro trabalho da trilogia, livremente inspirado no livro Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés. À partir de 2011 comecei a me interessar pelo universo de Alice. Li várias versões de livros de Lews Carrol. Então comecei a me interessar por rainhas. Vi todos os filmes que encontrei sobre rainhas. Elizabeth… Antonieta… Em meus cadernos já havia páginas e páginas de textos, pensamentos e devaneios sobre Alice e sobre rainhas… Eu queria fazer um novo trabalho, mas estava perdida. Então emburrei. Desisti. Não ia mais fazer outro solo. Afinal, deveria me concentrar em Mulher Selvagem e procurar amadurecê-lo e circular com ele. Após me convencer disso, me conformei e entrei em um estado de apatia. Sempre fico apática quando me auto engano.

Segui minha vida distraída. E foi distraidamente que um dia caminhei ao leo pela Savassi, bairro de Belo Horizonte.

Passei em frente à uma vitrine. Dentro dela vivia um vestido que brilhou para mim. Parei estarrecida diante dele. Só conseguia enxergá-lo e mais nada. Então minha visão foi se abrindo e vi que aquela vitrine era da antiga loja do Ronaldo Fraga.

Fiquei atordoada. Confusa. Não sabia se entrava e pedia para experimentá-lo…ou se isso era apenas um compulsivo desejo consumista feminino para suprir alguma carência de afeto do meu vazio que sempre existe.

Concluí que era um capricho advindo de um aspecto do meu feminino fútil. Empinei meu nariz e saí pela rua, confiante, me sentindo madura pela minha decisão. Mas ao chegar em casa me senti apática. Bosta! Me auto enganei de novo! Eu queria sim aquele vestido mais que tudo!

Dia seguinte acordo e volto decidida na loja e…cadê o vestido??? Tinha sido vendido! Mas como assim? Burra! Idiota! Fui acometida por uma culpa monstro. Fui para a casa da minha mãe aos prantos. Ela já estava acostumada com meus dramas cancerianos e por isso não se abalou. Chorei e me açoitei mentalmente por três dias.

Aceitei. Segui minha vida.

Duas semanas se passaram. Eu já havia aceitado que tinha perdido o vestido da minha vida. Então aquela força misteriosa que me conduz e faz com que eu rompa as minhas fronteiras me levou novamente àquela vitrine. Obviamente, quando a força misteriosa assume o comando, minha mente fica vazia. É quando fico distraída. Essa força misteriosa é a “mulher selvagem”.

Caminhei então distraidamente pelas ruas e qual não foi minha surpresa? Havia um outro vestido, aparentemente igual ao primeiro!

Meu coração disparou. Entrei determinada na loja e… uma outra cliente acabara de pedir para ver com as mãos aquele vestido a quem EU pertencia!

Pensei rápido. Todo o conhecimento ancestral feminino foi ativado em mim e as antigas avós sussurraram em meu ouvido que eu deveria desdenhar o vestido e manter a calma. As avós me disseram que assim a outra mulher se desinteressaria dele. E assim foi feito. A outra mulher simplesmente foi embora.

Aliviada, pedi prontamente para experimentá-lo. Este era tamanho M. O que eu havia visto antes era P. O tamanho M ficava melhor em mim.

Olhei-me no espelho e fiquei deslumbrada! “Parece figurino da Pina Bausch!”, eu disse e a vendedora respondeu: ” sim, essa coleção foi inspirada nela!”.

Pronto. Entendi tudo. Até aquela época o sonho da minha vida era dançar no Tanztheater Wuppertal, que ainda era dirigido por Pina Bausch, na Alemanha. Na verdade, esse sonho não realizado já havia se transformado numa frustração.

Ao me olhar no espelho vestida com aquele vestido que trazia os tão poéticos cravos usados por Pina, em um de seus espetáculos, tive uma sensação estranha. Senti um prazer, uma alegria, um encantamento.Tive uma sensação de preenchimento e pertencimento.

Para completar, a boa vendedora surgiu com o par de sapatos dourados que a modelo usou no desfile. Não restou dúvida. Nós saímos juntos da loja. Eu, os sapatos e o vestido.

 

Cheguei em casa. Tirei minha roupa e coloquei o vestido. Calcei os sapatos dourados. Caminhei até o armário. Abri a porta. Vi meu reflexo no espelho. Arregalei os olhos. Esbocei um sorriso e dei um suspiro profundo, que começou como um suspiro de redenção, tornou-se um suspiro de apreenção e foi finalizado como um suspiro de brusca queda à realidade. Senti vergonha. Por que eu havia comprado aquela roupa? Era o que eu me perguntava. Pensei: – ” onde vou usar isso? Só se eu ganhar um Oscar!”.

Realmente, eu não tinha onde usar um vestido daqueles… não frequento lugares onde se paramenta dessa forma. Foi quando algo veio lá do fundo de mim… pode ter sido o sussurro de uma avó ancestral… ou a voz da minha própria mulher selvagem:

” – Só se eu fizer um solo para o vestido!”.

E à partir daí, é uma nova história!

Creation, Direction, Choreography, and Performance Texts: Rosa Antuña
Costume Production: Rose Antuña
Lighting and Scenography Direction: Mário Nascimento
Music Compilation: Rosa Antuña
Musical Edits: Eduardo Borges
Photographers: Duda Las Casas, Marco Aurélio Prates, Diego Redel
Videos: Duda Las Casas
Video Editing: Duda Las Casas, Patrick Villar and Gustavo Silvestre
Press Advisory: Duda Las Casas
Social Media: Rosa Antuña

2017

• 27 de outubro e 3 de novembro – Caixa Cultural – Recife, PE

2016

• 7 de dezembro – 20:00hs – BH in Solos – Zap 18 – Belo Horizonte

• 11 de outubro – Terça da Dança – Teatro Francisco Nunes – Belo Horizonte

• 7 de setembro – Mova-se Festival – Teatro Margarida Schivazappa – Prêmio Funarte Klauss Vianna – Belém,PA

• 1º de setembro – Mova-se Festival – Café Teatro – Prêmio Funarte Klauss Vianna – Manaus,AM

2015

• 3 e 4 de outubro – Funarte – Belo Horizonte

• 8 e 9 de agosto – Ocupação Diálogos – Funarte – Belo Horizonte – sábado 20:00hs e domingo 19:00hs – ingressos 5,00 e 2,50 reais

• 23 de abril – TRILOGIA DO FEMININO – 23 O Vestido – Teatro da Caixa – Brasília, DF

2014

• 9 de agosto – Mossoró, RN

• 7 de agosto – Natal, RN

• 2 de agosto – 11 Mostra Brasileira de Dança – Recife, PE

• 23, 24 e 25 DE MAIO – ESTREIA NACIONAL (PREMIERE) – TEATRO OI FUTURO KLAUSS VIANNA – Belo Horizonte, MG – ingressos 15, 00 reais inteira – dias 23 e 24(sex e sab) às 20:00h e 25 (dom) às 19:00h.

2013

• 14 de novembro – Satyrianas – São Paulo – pre-estreia – 40 min

• 5 de outubro – 1,2 na Dança – Belo Horizonte – 25 min.

• 22 de julho – 7° Seminário de Dança de Joinville no 31° Festival Internacional de Dança de Joinville